Por Iasmim Sousa / Ascom Niesa
Dados do Diagnóstico Temático de Serviços de Água e Esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2023 revelaram que Mato Grosso é o 11° estado brasileiro com maior perda hídrica durante o processo de distribuição. Segundo o levantamento, aproximadamente 45,4% de toda a água captada e tratada é perdida. Na região Centro-Oeste, a unidade federativa é a que apresenta o pior cenário.
A pesquisadora Eliana Rondon, do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos (PPGRH/UFMT) e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saneamento Ambiental (NIESA/UFMT), explicou que elevados percentuais de perda de água, não impactam somente os mananciais, mas também aumentam os custos de produtos químicos, energia e, consequentemente, o valor final da água. Isso acontece, em geral, devido aos vazamentos nas tubulações, conexões e registros da rede pública, além de ligações clandestinas ou que não atendem aos padrões da prestadora de serviços.
“A perda de água tem como uma das causas a ausência na manutenção e operação do sistema de abastecimento. Um sistema é projetado para funcionar de forma contínua, regular e para isso precisa garantir água em quantidade, com vazão e pressão adequadas, em conformidade com as normas técnicas e também com os padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde”, esclareceu a professora.
De acordo com a pesquisadora, a falta de gerenciamento dos sistemas provoca a escassez hídrica, visto que na maioria dos municípios há disponibilidade de manancial para abastecimento da população. Esse é o caso de Várzea Grande, em que o rio Cuiabá, manancial responsável pelo suprimento de água, apresenta disponibilidade hídrica para atender a demanda da população. E, apesar da construção de novas estações de tratamento, a cidade ainda enfrenta problemas com o abastecimento de água no sistema.
O engenheiro Édio Ferraz (NIESA/UFMT) também explicou que “isso ocorre devido a vazamentos nas redes, conexões, registros e reservatórios gerando o que se denomina perdas físicas no sistema. Associado a um expressivo número de imóveis fora do cadastro comercial do Departamento de Água e Esgoto (DAE/VG), gerando as perdas comerciais. Para resolver essa situação, é preciso investir em várias ações, tais como: padronização das ligações domiciliares com a instalação de micro medição e implantação de macromedidores, de forma a delimitar a setorização do sistema, separando as zonas de pressão, substituição de redes de distribuição com vida útil já vencida, instalação de válvulas controladoras de pressão e vazão, automação e telemetria. A partir daí, é possível modelar hidraulicamente os vários sistemas de abastecimento existentes na zona urbana e estabelecer as condições ideais de funcionamento de cada um deles. Investimentos esses imprescindíveis para equilibrar o sistema”.
Já a professora Eliana Rondon salientou que o município de Várzea Grande não tem a necessidade de construir novas Estações de Tratamento de Água (ETAs), mas precisa investir na modernização do seu sistema de distribuição. Essa é uma estratégia que pode ser empregada para outros municípios que visam combater as perdas, e que estão passando pela implementação de planos de gestão com indicadores de desempenho e metas preestabelecidos. Outro procedimento que pode ser empregado é a setorização dos sistemas de abastecimento com base em planos de médio e longo prazos, com a necessidade premente do aumento do índice de hidrometração dos sistemas de distribuição com dispositivos de maior precisão e a criação de programas de redução de perdas físicas e comerciais.
Apesar do contexto preocupante, o diagnóstico do SNIS também aponta uma redução de 3% nas perdas hídricas entre o período de 2022 e 2023. Para a pesquisadora, no entanto, a diminuição foi muito tímida e não é capaz de refletir melhorias significativas nos sistemas de distribuição.
Perda real ou perda aparente: saiba a diferença
De acordo com o SNIS, as perdas de água podem ser enquadradas como dois tipos: reais ou aparentes. No caso da perda aparente, a água é consumida, mas não contabilizada (faturada) pelo prestador de serviços, seja por falhas no cadastro ou na medição, ligações clandestinas, entre outros. Já a perda real, é referente àquela que acontece por vazamentos extravasamentos em reservatórios ou unidades operacionais por excesso de pressão ou a má conservação das tubulações.
Os dados disponibilizados pela pesquisa foram do índice de perdas na distribuição (IN049) do SNIS e não diferenciam as causas das perdas, devido à falta de informações por parte de algumas empresas que não conseguem quantificar exatamente o volume de água perdido por vazamentos na rede, submedição ou fraudes.
As informações se baseiam em dados de referência do ano de 2022 e estão disponibilizadas no documento abaixo.
Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saneamento Ambiental (Niesa/UFMT)
https://niesa.ufmt.br/ | Facebook | Instagram | YouTube